terça-feira, 19 de julho de 2011

Do blog Café de Ontem -

Resenha: O Silêncio das Mariposas, de Juliano Schiavo
19MAI

O Silêncio das Mariposas (Editora Multifoco, 214 páginas), romance de estréia do autor Juliano Schiavo, é um uma ficção de terror psicológico com altas doses de erotismo. O livro é narrado em primeira pessoa por um personagem sem nome e de sexo indefinido, apesar de eu não conseguir, em momento algum, imaginá-lo como não sendo masculino, desde sua infância e primeiras experiências sociais até sua transformação em vampiro e trajetória como criatura da noite, escrava e amante de seus próprios desejos e as consequências que eles trazem à sua personalidade.

Desde o surgimento do vampiro Lúcio, aquele que transforma o narrador, este assume o papel de guardião, amante e professor, não disfarçando sua necessidade e carência, para não dizer dependêcia, de sua nova criança e a história se aproxima notadamente da trama de “Entrevista com o Vampiro”, de Anne Rice. Assim como Lestat, Lúcio transforma um jovem e o deixa a mercê de seus caprichos, ensinando-o os prazeres carnais e sanguíneos; tal como o vampiro de Rice, Lúcio se mostra apaixonado e vazio sem sua cria; outra coincidência é o laço do vampiro com o mundo mortal por meio de um parente vivo, no caso de Lestat era o pai, aqui… bem, aqui é outra pessoa. Mas, diferente de “Entrevista com o Vampiro”, onde Louis luta contra seu tutor e seus instintos assassinos, no romance de Schiavo o narrador aceita sua nova condição com passividade e alegria, e é aí que os problemas começam.

Espero que o autor me perdoe, mas o pedido foi de uma resenha sincera e, se assim não fosse, eu não a escreveria, portanto, confesso que achei o livro extremamente monótono. O problema é a falta de conflitos que levem o leitor a seguir virando as páginas. Os fatos se sucedem de forma repetitiva e a narrativa em primeira pessoa não permite que se desenvolva qualquer apego às vítimas do novo vampiro, o que torna suas caçadas desinteressantes. As divagações do recém transformado personagem também não ajudam, baseadas em conceitos clichês típicos de crises adolescentes, o vazio de suas colocações, principalmente quando visita uma favela, causam constrangimento. Faltou muita lapidação na história antes da publicação.

Para não deixar minha crítica, que admito ser bastante áspera, sem justificativas, ressalto aqui alguns elementos que ilustram o que quero dizer: incontáveis vezes o personagem narra detalhadamente seus banhos e como a água escorre por seu corpo e ele percebe as sensações, uma alusão, entendo eu, a um ato mastubatório, que repetida vezes e vezes pelos capítulos chega a irritar; o cenário se restringe a passeios rápidos a uma cidade interiorana e a uma casa onde os vampiros vivem e cuja descrição foca no caixão onde o narrador dorme e a uma mesa de mogno, citada dezenas de vezes, sendo necessária ou não para o andamento da história; a cada vítima se repete a mesma fórmula: sonho e caçada, tornando a trama previsível e, depois de se arrastar por quase duzentas páginas sem nenhuma reviravolta, a trama se apressa a terminar, de forma bastante abrupta e pouco convincente.

Os elementos eróticos, principalmente os homoeróticos, usados para apimentar a trama, na verdade a tornam ainda mais cansativa, exatamente pelo mesmo motivo: repetição. Os fetiches explorados no livro não são originais e usá-los para alavancar a história exigiria uma grande dose de imaginação, sensibilidade e entendimento das motivações do personagem, o que não é bem trabalhado. Outro fator determinante é que o autor parece ter se limitado nas descrições das cenas mais picantes, não se permitindo excessos e acabando em lugares comuns. Ler Sade, hoje, não é tão chocante assim, mas o foi em sua publicação, assim como O Amante de Lady Chatterley, A Vênus das Peles ou os romances de Henry Miller, como Trópico de Câncer. Em resumo, para se escrever ficção erótica, não se pode ter vergonha do erotismo, e ele não pode estar fora de contexto.

Para finalizar, devo destacar que os diálogos, tão importantes na ficção, soaram em todos os momentos artificiais. Se os pensamentos e atitudes são de uma rebeldia adolescente, os tons formais e cheios de figuras de linguagem mal aplicadas não convencem o leitor. Uma página aleatória:

- Não seria prazer a palavra mais apropriada.

- Encare como se fosse. Todo prazer vem embrulhado em renúncia de alguma coisa. E você renúnciou à pureza que tanto estimava.

- É… como você me disse: toda escolha tem seu preço.

- Vamos andar a esmo. Refletir neste momento só trará dor e desconforto. O melhor a se fazer é se entregar naquilo que os humanos mais sabem fazer: inventar alguma coisa para esquecer o tempo.

- Tempo… tempo cruel, vida cruel. Está bem.

A obra também não passou por uma revisão de qualidade, pois os erros de português, principalmente na pontuação, são gritantes. Espero que o autor continue seu caminho e investindo em sua escrita, buscando aprimorá-la e, em futuros lançamentos, tenha mais paciência para maturar seu trabalho antes de partir para a publicação e assim consiga nos trazer algo mais consistente. Não é uma crítica negativa que deve acabar com a motivação de ninguém e eu sou apenas um leitor, já li resenhas positivas do livro em outros blogues e minha opinião pessoal não é, de forma alguma, melhor do que a de outros resenhistas. É apenas sincera e espero que também construtiva.



Fonte:
Café de Ontem
Por: Junior Cazeri

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