Por Fernando Heinrich
Para atualizar o blog, num novo ano, depois de certo tempo sem postagens, inauguro 2011 com uma resenha. O livro da vez é O Silêncio das Mariposas, do autor Juliano Schiavo. Boa leitura.
O Silêncio das Mariposas, uma auto-publicação de Juliano Schiavo, narrado em primeira pessoa, é a história de um personagem misterioso. Não é possível saber se é homem, ou mulher, pois suas atitudes podem ser interpretadas de forma a caracterizarem ambos os sexos, ficando a critério do leitor se colocar inteiramente na pele do personagem e viver por completo a sua história.
Assim, não caracterizarei o(a) protagonista como "ele" ou "ela", mas simplesmente como "o personagem" ou "o protagonista". Este, teve uma infância cercada de olhares curiosos e admirados por sua beleza exterior incomum.
Incentivado pela mãe a tentar a carreira de modelo, o personagem se vê cercado por um mundo materialista, por grupos onde as aparências são tudo. Com isso, passa a amar sua imagem perfeita, seu rosto excepcional, objeto de desejo e admiração alheia.
Foi quando, num certo dia, durante um passeio de bicicleta, o personagem leva um tombo e seu rosto sofre um extenso corte, o que ocasiona uma profunda cicatriz. Este fato marca para sempre o término de sua "quase carreira" e de uma vida, digamos, perfeita.
Numa noite, durante um baile, o personagem, de rosto marcado, se depara com um ser de aparência andrógina, alguém que mudaria para sempre sua vida. O personagem mal sabia que, naquela noite, estaria cara-a-cara com um Vampiro.
O autor optou por uma narrativa em primeira pessoa, no passado, o que lhe dá a vantagem de estabelecer de forma mais fácil um ponto de vista consistente, dificultando a perda de foco em sua história. Apesar de, em alguns momentos, um ponto de vista onisciente aparecer, gerando dúvidas sobre o conhecimento do personagem sobre determinados fatos, na maior parte do texto Schiavo prende-se às lembranças do protagonista, que relata em detalhes a sua vida após o encontro com a "criatura das trevas". Assim, o Vampiro torna-se uma figura importante para o acalentar das mariposas cinzentas, que acompanham o personagem por toda a trama.
A aparência andrógina da criatura da noite é citada a todo instante pelo narrador personagem, talvez como forma de reafirmar a ausência de um gênero (masculino ou feminino) para o personagem principal. Schiavo deixou este ponto bem explícito no texto, substituindo as letras que definiriam o protagonista como homem ou mulher, por pontos de interrogação, de forma a revelar apenas a sua idade e nada mais.
Com isso, ao ler O Silêncio das Mariposas, busca-se identificar no personagem características que revelem seu verdadeiro sexo. Mas, seus desejos carnais são tantos e tão exóticos, que insistem em deixar em dúvida a sua identidade. Ou seja, o autor cumpre seu objetivo e faz o leitor imaginar-se personagem em determinados momentos, vivenciando atitudes e sentimentos.
Apesar da escrita densa, onde Schiavo muitas vezes 'conta' ao invés de 'mostrar' cenas, o livro consegue prender a atenção do leitor, pois mexe a todo instante com desejos carnais, que o personagem procura realizar, a fim de acalmar suas mariposas cinzentas e satisfazer sua, digamos, necessidade.
O texto lida com conflitos psicológicos que geram depressão, a sensualidade e o prazer carnal do ser humano, sensações que, por precisão e curiosidade, o protagonista, influenciado pela criatura das trevas, faz questão de experimentar.
Em O Silêncio das Mariposas, Juliano Schiavo mostra-se um autor muito capaz e preocupado com o impacto do texto para o leitor. Às vezes, sua escrita segue caminhos pouco claros, onde a idéia da cena, ou da imagem que se quis reproduzir, é apenas citada, ficando a cargo do leitor "interpretá-la" ou invés de "visualizá-la". Porém, para o jovem autor nacional, a obra, bem pensada e de uma premissa excepcional, marca o início de uma brilhante carreira.
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