Mais uma resenha super bem elaborada pelo Jota Marques, do blog Toca do Jota
Vampiros sempre estiveram na moda. As vezes estão mais em alta, outras vezes mais em baixa, mas ninguém discute que a produção cultural (jogos, RPG, literatura, cinema, quadrinhos) sobre o tema é vasta. Nesse meio, como recontar o mito do vampiro, diferenciando-se dos outros trabalhos? Em "O Silêncio das Mariposas" Juliano Schiavo arrisca uma nova abordagem.
A trama narrada em primeira pessoa, com fortes influências de "A entrevista com o Vampiro", conta os acontecimentos do protagonista desde sua infância, sua transformação em vampiro, até seus derradeiros momentos. A personagem não tem nome ou gênero sexual. Não sabemos se é um homem ou uma mulher. Essa técnica permite com que as descrições sensuais, quando o vampiro se alimenta, sejam muito bem trabalhadas e desenvolvidas, envolvendo o leitor de forma competente. Pouquíssimas vezes esse mesmo artifício escorrega em alguns momentos mas não prejudica em nada a leitura.
Acompanhamos o desenvolvimento da personagem principal, enquanto segue os passos de seu vampiro Mestre Lúcio. A narrativa centra-se nos conflitos e tormentos psicológicos sofridos pelo protagonista, enquanto delira com sonhos febris onde identifica os seus desejos pela próxima vítima. As mariposas, representam a ansiedade da personagem enquanto se esconde por detrás de mascaras impostas pela sociedade e depois pelas "regras" vampíricas. Um tema recorrente para quem já jogou ou conhece o sistema Storytelling "Vampiro: A máscara."
Juliano Schiavo desenvolve a trama de maneira acertada mas, apesar de dentro da proposta da trama, acaba caindo em uma rotina previsível de acontecimentos. Começa com um sonho, depois o desejo incontrolável quase sexual. A caça e o ataque com descrições sensuais. Os delírios da ressaca, a ajuda de Lúcio e termina por dormir enfraquecido, vindo a despertar em algumas noites. Tudo muito bem descrito e desenvolvido. O ciclo só vem a ser quebrado com o clímax da trama, quando a personagem decide abandonar todas as mascaras e silenciar suas mariposas.
Erros de revisão são bem raros e perdoáveis. Outra coisa que incomoda um pouco é a resistência do autor, nas palavras de sua personagem, em revelar o nome de localidades ou os sobrenomes de outras personagens que surgem na trama. Acredito que o desejo era de criar o clima de relato anônimo, sem causar prejuízo a terceiros, mas na minha opinião isso não tinha necessidade. Talvez um melhor trabalho editorial seria suficiente para acertar e melhorar o que já esta muito bom.
Sendo narrado em primeira pessoa, perdemos a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento de outras personagens da trama como Lúcio e sua irmã, e até mesmo o delegado que investiga os ataques do vampiro.
"O Silêncio das Mariposas" foi lançado em 2010 pela editora Multifoco, mostrando que a auto-publicação pode sim nos trazer boas e agradáveis surpresas, e aguardamos por um novo trabalho do autor.
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